segunda-feira, 8 de julho de 2013

Palminhas ao circo!

Palmas para Cavaco Silva e Passos Coelho ( in Publico 7/7/2013 )


Com muito respeito por essa reconhecida arte, que me desculpem os artistas circenses mas fiquei traumatizado desde pequenino com o circo.
Eu explico.
No natal aquela mania malfadada de nos levarem pelo braço ao circo fez de mim um alérgico a esse ambiente. 
Precoce, mas sem entender muito bem porque aqueles fatinhos reduzidos das trapezistas e contorcionista me faziam umas certas cocegas  mas, vá lá, eram as partes engraçadas da questão. Falando da questão com amigos a esta distância, parece que seria reacção unânime! 
Agora ver os animais, alguns bem mal cheirosos com um gajo tapado de cetim e lantejoulas com um assustador e farfalhudo bigode preto enrolado nas pontas tinha de estalar o chicote de 3 em 3 segundos provocando mais medo em mim do que nos bichos.
Depois vinha o meu pior suplicio. Os palhaços!!!
Não entendia uma única palavra daquelas pronunciadas à pateta e revoltava-me pelo desgraçado do pobre estar sempre a enfardar chapadas nas ventas do rico. Passado estes anos deduzo que seria uma politização das massas juvenis naquilo que é o entendimento social da sujeição ao dinheiro!!!
Apeteceu-me dizer isto em tom de brincadeira mas completamente consciente da verdade que lhe está contida.
Mas o que me punha francamente contra os meus progenitores, era um enorme e súbito estouro dum pequeno carro a escangalhar-se no meio da pista hipoteticamente conduzido pelo palhaço pobre!
Adultos a rirem-se como bandeiras despregadas louvando este estúpido facto com grande ovação enquanto nós, as criancinhas, ficávamos ali estarrecidas de medo tentando controlar o enorme susto, algumas, lembro-me, desatavam a chorar.
Não sei qual dos factos revoltava mais a minha reactividade primária! Se o estouro ou as palmas?
Daí rejeitar este inaudito aplauso, seja com palminhas, ou com braço estendido tão usais nas organizações dirigistas aprumando-se bem o pedestal para erguer bem debaixo dos pés aqueles senhores do poder perante enormes e compassadas ovações dos seus apoiantes.
Por isso não achei grandes diferenças, diria antes vi claras semelhanças entre a organização da saudação dos seus seguidores à entrada do grande líder norte coreano Kim Jong-un num espectáculo  e as "palminhas" aos mandantes políticos deste país obtidas num templo religioso, o nosso pacato mosteiro dos Jerónimos por sinal, numa celebração que nada tinha de politico!
Das quatro uma:
Ou essa história de estarem sempre a criticar que há países muçulmanos onde a religião subalterniza o poder politico é da boca para fora, ou aquela coisa da religião e politica nas democracias ocidentais e em particular em Portugal não se misturarem será apenas para inglês ver, ou este pobre país sem rumo dito maioritariamente católico "não praticante" usa e abusa duma pratica ortodoxa e grandemente influente na organização politica muito bem aproveitada pelos dois partidos actualmente no governo ou, talvez, estejamos a assistir a uma mobilização mais cuidada por parte desses partidos, bem trabalhada nas "sacristias", a idêntico modo do que a esquerda faz.
Toda a gente sabe que influenciar as massas bastam dois ou três gritarem que o rei vai nu para desatarem todos a bater palmas!
Palhaçada sem estouros mas que mete medo.
Pelo menos a mim!!!