quarta-feira, 17 de maio de 2017

Intelectualóide TOP!

A intelectualidade sempre foi pouco substantiva para as pessoas menos cultas que por qualquer razão não tiveram possibilidades ou não quiseram cultivar-se. Ao contrário de tentarem absorver o saber dos outros, preferem optar por denegrir quem partilha o conhecimento como forma de expressão ou opinião. 
Pôr conhecimento ao serviço dos outros, ou tão somente na socialização, expondo ideias, convicções e cultura, seja pela escrita ou na oralidade, devia merecer mais atenção, mas principalmente respeito.
Ser-se culto nunca deveria ser motivo de critica pois as áreas do conhecimento são infinitas, umas mais eruditas outras mais populares - a cultura dos costumes é extraordinariamente importante na cultura popular - ambas são repletas do saber, filtradas pelos interesses individuais desenvolvidas no gosto próprio. 
É bom podermos absorver o que essas pessoas cultas nos ensinam, pois ninguém nasce culto e a cultura não se vende ao quilo embalada em caixa colocada no escaparate do supermercado.
Outro conceito é que somente os diplomados são cultos. 
Este paradigma é absolutamente errado porquanto existem iletrados com cultura bastante superior a alguns licenciados. 
A cultura procura-se, é preciso ter-se vontade em aprender e esta premissa é a mais importante para se obter o conhecimento. 
Desde criança, fui muito curioso e interessado nas mais diversas e diferentes áreas do conhecimento. Chateava todos com perguntas, opinava sobre tudo, desmontava e montava o que encontrava à mão, devorava livros, praticava ginástica, natação, atletismo, frequentava aulas de piano, enfim, não deixava ninguém sossegado à minha volta. 
Era já jovem estudante na área dos números, lembro-me correr inúmeras vezes para o auditório da Faculdade de Letras para assistir às incríveis aulas de Vitorino Nemésio, repletas de interesse e informação onde a História era descrita com riqueza de pormenor que eu absorvia como um factor para reflexão. Aliás fui um dos muitos privilegiados a assistir à sua ultima aula em 1971. 

Adquirir aderentes para a cultura do conhecimento será, ou deveria ser, uma preocupação primordial dos responsáveis pelo desenho politico dos planos nacionais de educação e cultura mas a verdade é que continuamos a ser um povo que prefere cultivar-se no "correio da manhã" ou "tvi", com o a publicação da desgraça, da coscuvilhice e do boato. 
Milhares de estudantes injectados nas universidades para serem "dr" ou escola obrigatória até ao 12º ano ajuda muito mas não transforma num ápice, nem em 5 gerações, uma sociedade analfabeta num país culturalmente médio ou superior. É bom recordar que no nosso país em 1970 havia 25,7% de analfabetos tendo diminuído para 5,2% em 2011 segundo os Censos efectuados pelo INE.
Apesar desse esforço, Portugal continua a ocupar um péssimo lugar no ranking europeu em Literacia Científica, Leitura e Matemática, dando bem a noção de áreas como a leitura, as artes, o conhecimento cientifico são bem arredados do povo comum. 
No entanto enquanto o grupo de homens e mulheres cultos do nosso panorama intelectual que nos enche de saber com as suas palestras, escritos, intervenções, um facto adicionalmente positivo socialmente com as redes sociais, produziu um outro grupo de "intelectualóides TOP", com essa nova exteriorização de cultura do "copy/past" promovida pelo grande mestre mundial, o "Dr Google".
Eles sabem e intervêm sobre todas as matérias, desde o desporto à política, das artes à engenharia, das ciência à matemática, da astronomia à economia, do bicho da batata ao sexo das minhocas, enfim, sabem tudo e mais um par de botas!
Então levo as mãos à cabeça quando se trata da partilha de intervenções dos lideres políticos ou desportivos, repetidos até à exaustão, com frases, conceitos, espertezas acompanhadas por um daqueles comentários de montra de cuecas, é mesmo TOP? 
Ui, ui, profundo mesmo! 
Sinceramente não vejo mal algum, bem pelo contrário, em usar o Google como ferramenta de consulta duma duvida e para aumentar (?) o conhecimento que antes não se obteve por iniciativa própria, ou durante a formação literária ou cientifica ou até mesmo na básica. 
Nem tudo partilhado no Google é verdadeiro, é certo, mas com cuidado e pesquisa atenta e comparativa podem-se tirar algumas duvidas ou concluir um determinado tema que nos escapou. 
O que chateia mesmo é estes novos doutores opinarem até mesmo sobre coisas que não sabem, nunca viram ou experimentaram, sem antes terem escrito uma linha sobre algo culturalmente interessante, mas não perdem uma oportunidade para meterem o garfo. 
Já nem falo nos erros ortográficos usuais desta categoria de sabichões mas isso, infelizmente, é hoje transversal em todos os níveis de conhecimento. 
Então há uns tipos muito giros, aqueles que só sabem intervir pela negativa ou na contrariedade para mostrarem uma hipotética diferença visionária superior, preferencialmente com uma óptica explosiva.
É mesmo uma praga muito chata! Pelo menos para mim é chata, mas a realidade é que a prática vende bem, ao existirem outros milhões de "voyeurs" facebookianos que adoram assistir a cenas ao nível directamente proporcional.
Eu não sei tudo, longe de saber muito, daí só opinar por conhecimento ou convicção nas matérias que me sinto firme, numa visão critica e isenta sempre que não colida directamente com as minhas convicções. 
Mas é um divertimento, riu-me em silencio sempre que leio as bojardas de alguns "intelectualóides TOP", esses que raramente acertam uma porque, medem o seu nível de intervenção pelo numero de likes num acto repleto de ignorância que nem dão por isso! 
Mas há muita gente que dá!