sexta-feira, 26 de abril de 2013

A ignorância come-se?


A ilusão será o pior pesadelo dos ignorantes!
Hoje apetece-me ter um longo desabafo!
Tenho de confessar que chegado a meia dúzia de anos de completar 70 anos ando em baixo, sem alento, vendo a esperança esvair-se à minha frente e a cada momento no meio desta selvática ignomínia partidária onde se usa e abusa da ingenuidade e iliteracia duma grande parte deste povo.
Tudo aquilo em que acreditei desde os meus 15 anos, tudo aquilo porque lutei, tudo aquilo que achei ser melhor para os meus filhos e netos, hoje é gratuitamente posto em causa principalmente pelos jovens desconhecedores da história deste povo, dando os argumentos mais absurdos, destorcidos e claramente maniatados politicamente tornando-os em simples “pedrados” e possuidores de incrível falta de bom senso.
Falta de raciocínio?
Imaturidade social?
Incultura?
Sem duvida alguma que sim!

Se não pensarem o que serão daqui a 40 anos e remeterem-se para a cómoda posição de seguir o grande pensamento do “sr-dr-iluminado-superior-bem-falante” é porque lhes sabe bem a varinha no lombo qual carneirinho acéfalo no meio dum rebanho comandado a ir “por ali”!
Com enorme desplante vejo e ouço-os discutirem valores, porem em causa o que antes eram os grandes objectivos sociais em todo o mundo, numa doentia deformação do que deve ser a dignidade e protecção mínimas dum cidadão trabalhador que obtém legitimamente os frutos desse investimento colectivo e viver em paz e harmonia no seu país!
Sei que grande parte não entende o que se passava antes do 25 de Abril, qual foi a finalidade dessa revolução, tal como eu não consigo imaginar a expulsão dos jesuítas ou o extermínio dos judeus.
Mas o simples facto de não ter vivido nessas épocas não faz de mim um ignorante.
Li, estudei sem aquela preocupação muito lusa de contestar todos os factos descritos porque afinal fazem parte da história vivida e completamente imutável.
Ou entendo e apreendo, ou remeto-me para o nível mais baixo do desconhecimento.
Não admitem ter havido fome naquela época, provavelmente e infelizmente experimentada pelos seus avós ou pais, onde as pessoas não gozavam a liberdade de pensar ou expressar opinião, os trabalhadores eram mal pagos e muito pouco reconhecidos, havia um impedimento claro do acesso ao conhecimento, a cultura era censurada, 30% da população não sabia ler nem escrever por não ter posses para ir à escola, vilipendiava-se o progresso e a tecnologia, tudo a favor da pátria, da guerra colonial e da protecção de meia dúzia de fortunas.
A “politica” era vedada ao cidadão e quem ousasse falar era comutado de “comunista” mesmo que não fosse verdade. Prendiam-se as pessoas por tempo indeterminado, sem culpa formada, sem julgamento, porque um “bufo” disse que era comunista.
A protecção na saúde chegava a meia dúzia, morria-se cedo, infeliz e sem vintém!
Depois já em plena democracia, acusavam-se os comunistas e socialistas de quererem nivelar por baixo, retirando aos ricos para dar aos pobres.
Conseguiram-se por os operários e trabalhadores do comercio e serviços em geral a ganhar um pouco mais, a terem protecção na saúde, com melhores condições para colocarem os filhos nas escolas, darem outros valores de conforto à família que seus antepassados não tiveram nem lhes deram.
O povo na sua absoluta ingenuidade foi dando consecutivos cheques em branco, em alternância é certo, mas a políticos incompetentes que, por sua vez, foram administrando durante anos os dinheiros públicos a seu bel-prazer e sem qualquer projecto político estruturado a médio e longo prazo.
Em conjunto com os novos-ricos emergidos das oportunidades político-partidárias associaram-se em lobies, muitos deles obscuros, numa alternância proteccionista de poder sem que déssemos por isso.
Nos anos 90 durante o governo de cavaco permitiu-se que a Europa viesse retirar o pouco de produtivo que ainda tínhamos.
Pescas, têxteis, sapatos, agricultura, enfim, pequenas e grandes indústrias, lojas de comércio, todos em conjunto eram capazes de gerar emprego e sustentar bem este pequeno país, foram trocados pela importação desenfreada de bens fazendo depender a nossa economia duma balança de pagamentos cada vez mais desiquilibrada.
Nivelando agora por cima ( porque interessava… ) entrosado no tal esquema neo liberal não contemplaram as pessoas com a distribuição do obrigatório livro de instruções, apelando e incentivando o consumo pelas formas mais agressivas de publicidade e marketing apoiados pelos bancos a oferecerem, sem qualquer controlo, créditos ao consumo como se não houvesse amanhã.
Numa politica objectiva incentivaram-se as estradas consumistas com a proliferação das enumeras grandes superfícies na mão de grupos económicos, baixando os preços por grande rotação de stocks, esmifrando as margens dos fornecedores, com o triste resultado de irem aniquilando aos poucos o pequeno comércio de aldeia ou de bairro! Ingenuamente os incautos usaram estas “facilidades creditárias” perspectivando legitimamente as suas vidinhas como não pudessem surgir mutações nos seus empregos, na banca, na sociedade.
Mas afinal houve!
O crash financeiro ocidental especulativo de 2008 veio “acertar” abruptamente aquilo que “valia” 100 para 60!!!
Está aí o desemprego, as contas por pagar, os créditos que não se conseguem honrar, os preços a aumentarem, o “social” a ser cortado, enfim, voltamos à miséria dos anos 60 com a bandeira negra da emigração a regressar às famílias!!!
Hoje querem convencer-nos que afinal a receita politica de Portugal estava errada e é preciso “corrigir” a qualquer preço o que eles próprios construíram prometendo mundos e fundos a troco do voto!
Afinal hoje implantam a dita teoria “socialista” de nivelar por baixo naquela máxima que vivemos acima das “nossas possibilidades”.
Não será valido o cidadão perspectivar a sua progressão social e familiar, em qualquer sociedade, em qualquer país, em qualquer regime, com um poder politico competente e preocupado em criar condições para o seu povo viver melhor, ter mais condições sociais e económicas?
Falam os ignorantes compradores das engenharias financeiras das tabelas Excel da treta que se não há dinheiro despedem-se as pessoas e pronto, esquecendo que serão mais uns tantos a não descontar impostos e a receberem subsídios.
Aliás esta é a terra dos subsídios a todos os níveis!
Das poucas coisas que ainda me fazem rir é essa teoria contra o estado “socializante” na óptica do empresário vociferando que “é preciso diminuir o estado”, que “o estado social é incompatível com a actual situação económica pelo fraco numero de activos em contrapartida aos reformados”, que “temos de diminuir o número de funcionário públicos a mais e até cortar o tubo aos velhos para reduzir despesa” e outras alarvidades do género!!!
Mas a estes profundos “anti-socialistas” se lhes caí um gota de agua a mais no nabal, ou ardeu o palheiro da fábrica, “ai meu deus, o estado tem que me dar um subsidio para fazer face aos prejuízos”!!!
Esta dupla face da mesma moeda entre o estado sim para mim e o estado não para os outros, o nivelar por cima numa altura e por baixo em outra, deambular entre o subsidio e o não-prejuizo são apregoados consoante as conveniências.
A verdade é que quem paga todo este “estado” como sempre aconteceu ao longo das gerações, é o desgraçado do trabalhador por contra de outrem que não pode escapar nem um cêntimo aos impostos.
Ora têm sido exactamente estes muitos cêntimos do trabalho dum povo que aguentam há anos as asneiras e burrices dos políticos governantes.
A nova estratégia da terra queimado usada por esta gentalha do poder num processo intergeracional é picarem os jovens de hoje a odiarem os velhos por receberem uma reforma mais substancial mas absolutamente equitativa ao valor que descontaram durante 40 e tal anos!
Nunca o estado pagou um centavo a mais a quem quer que fosse. Bem pelo contrário! Espero que a quem hoje acredita nesta filosofia anti-social do estado, não lhe seja servida esta mesma sopa daqui a uns anos pelos jovens de então quando atingirem a idade da reforma e experimentarem quão injusto é tudo o que hoje propagandeiam e defendem!
Não meus amigos!
A aritmética não mente e há que gerir com competência este esforço do povo mas jamais contra ele e principalmente da forma displicente com que hoje se defendem gratuitamente os despedimentos como forma única de redução da despesa.
Não se resolvem os problemas financeiros prescindindo do emprego produtivo, da saúde, da educação, da justiça, aumentando o desemprego e a emigração.
Como se resolve então isto tudo?
Elejamos tipos honestos e capazes que saibam que cada pessoa produtiva vale mais que um subsídio de desemprego, que cada trabalhador motivado é um investimento na sustentabilidade do estado, que cada reformado possa ser respeitado com dignidade pelos muitos anos de trabalho prestado ao país, que saibam organizar um apoio na saúde, na educação e na justiça para não termos um povo nem doente, nem ignorante, nem injustiçado, acima de tudo um estado que honre a confiança que os cidadãos deram aos governantes pelo voto ao contrario do que até hoje tem existido!
O aproveitamento dos lugares do poder tem provocado o enriquecimento ilícito, o abuso de poder e o actual estado da nossa situação politica e financeira.
Os impostos que todos nós pagamos, provenientes do consumo, dos salários, das reformas, etc são exactamente para sustentar o estado e não para pagarmos as fraudes dos bancos, das empresas publicas, dos roubos e esquemas engendrados pelos senhores que pululam em torno dos poderes e que levaram ao descalabro o nosso país.
Quem ainda se iludir que estamos no caminho certo e que não existe uma terceira via, morrerá durante o pesadelo da sua própria ignorância.